segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O desejo é uma criança cheia de vontades
Ele possui tudo o que quer
Que tudo o que pode possuir
Não se diz NÃO ao desejo
Aceita-se.
Ou ele há de perpassar seus poros
Adentrar sua carne
Rasgar por dentro
ARDER.
Não se antecipa ao desejo
Ele vem. Virá. Veio.
Desfeito no ar
Diluído nas cores de olhos
em todos os tons de azul
Em meio à saliva de um beijo
No gosto de cigarro
Ele arranca de si um pedaço
Que ficará com ele
E não mais voltará.
Não se diz NÃO ao desejo.

sábado, 17 de outubro de 2015

I don't even know how to start it and I've probably chosen my second language because it feels more comfortable - English is icy, cold, shallow. 

But you touch me. You touch me in so many ways and you barely know it. And I feel all those tiny but strong strings attached to me pulling myself towards you. I feel as though my whole soul could just walk away from my body to meet yours. And talk.

Oh, and talk.

And how I wish I didn't feel so much. 

And I try to. 

I try to ignore the feeling down my spine when your brain (expressed through your words) seems to just match mine. I try not to admit there is something about the way your mind works and your body talks and your eyelids move that could not possibly match anyone. Ever.

I try to be reasonable and comprehend all those gaps that can set us apart at anytime.

And I try not to. 

I try not to act AS IF. Because ifs just don't matter. They lie. I try not to show how delightfully in love with your brain I am.

But I am. 

Undoubtedly. 

domingo, 20 de maio de 2012

Vá!


Rita,
Vá!
Mas vá de uma vez
Não deixe esse rastro, traço
Vá e leve junto esse cheiro
Leve os sorrisos calculados
Os gestos cronometrados
Ou não leve
O tempo há de misturar seu cheiro com outros cheiros
Seus traços com outros traços
Seus gestos com outros gestos
Mas eu te peço, Maria
Vá!


2/3/2011

sábado, 24 de setembro de 2011

"Baderneiros e Mimados"



Entrevista com ROGER SCRURON

O filósofo inglês diz que os quebra-quebras em Londres são obra de uma juventude dependente e ressentida, criada pelo excesso de políticas estatais assistencialistas.

O filósofo inglês Roger Scruron, de 67 anos, é presença constante nos debates realizados em eu pai quando é preciso ter na mesa um pensador independente e corajoso. Autor de 42 livros de ensaios. Scruron é uma pedra no sapato da ideologia politicamente correta que predomina bovinamente na Europa. Multiculturalismo? Um desastre. A arte moderna? Detestável, e por aí vai o filósofo, que lecionou nas universidades de Oxford. Na Inglaterra, e Boston, nos Estados Unidos, e atraiu para si o cognome de "defensor do indefensável". Um dos fundadores do Conservative Action Group, que ajudou a eleger a primeira-ministra Margaret Thatcher. Scruron publicou recentemente um novo livro, As vantagens do Pessimismo, ainda sem previsão de lançamento no Brasil.

Um bom número de intelectuais ingleses interpretou a onda de vandalismo em Londres e arredores como atos de jovens niilistas sem maiores repercussões. O senhor concorda?
Acho essa explicação muito simplista. Muitos desses desordeiros são realmente niilistas, que não acreditam em nada e não se identificam com nenhuma instituição, crença ou tradição capaz de fazer florescer em cada um deles o senso de responsabilidade e o respeito pelo próximo. Alguns não têm emprego. Mas, na maior parte dos casos eles agiram por uma escolha deliberada. Desemprego e niilismo sempre existiram. Ninguém mencionou como uma das causas da baderna a deformação causada nesses jovens pelas políticas do estado do bem-estar social. Diversos estudos mostram com clareza a vinculação desses programas assistencialistas com a proliferação de uma classe baixa ressentida, raivosa e dependente. Não quero ser leviano e culpar apenas as políticas socialistas pelos tumultos. As pessoas promovem arruaças por inúmeras razões. Entre os jovens, a revolta é uma condição inerente, um padrão de comportamento. Mas é preciso um pouco mais de honestidade intelectual para buscar uma resposta mais concreta sobre o que ocorreu em Londres. Por debaixo do verniz civilizatório, todo homem tem dentro de si um animal à espreita. Infelizmente, se esse verniz for arrancado, o animal vai mostrar a sua cara. A promessa de concessão de direitos sem a obrigatoriedade de deveres e de recompensas sem méritos foi o que arrancou o verniz nessa recente eclosão de episódios de vandalismo na Inglaterra.

Os distúrbios em Londres e os protestos no Cairo, em Atenas, em Madri e em Tel Aviv são um mesmo "grito dos excluídos"?
Sou cético em relação à ideia de que os protestos que eclodiram em diversos pontos do mundo têm a ver com exclusão, com o suposto aumento no número de pobres ou com concentração de renda. Os baderneiros de Londres são, pelos padrões do século XVIII, rico. Desculpe-me, mas é resultado de exclusão depredar uma cidade porque você tem só um carro, um apartamento pequeno pelo qual não paga aluguel, recebe mesada do governo sem ter de fazer nada para embolsá-la, compra três cervejas, mas gostaria de beber quatro, e acha que ter apenas um televisor em casa é pouco? Não. Ver exclusão nesses episódios só faz sentido na cabeça de um professor de sociologia. É um absurdo também comparar os tumultos de Londres com os eventos no Oriente Médio. Os jovens do Egito exigiam algo do governo. Os jovens ingleses não dão a mínima para o governo ou para as instituições.

No seu último livro, o senhor afirma que o otimismo é mais nocivo para os indivíduos e para as nações do que o pessimismo. Como o otimismo pode ser tão prejudicial?
Não falo do otimismo como virtude, nem da esperança ou da fé, que servem para a elevação espiritual do indivíduo e fomentam inovações e avanços. O otimismo prejudicial é o desmedido ou, como disse o filósofo Arthur Schopenhauer, o otimismo mal-intencionado, inescrupuloso. É o tipo de pensamento que está por trás de todas as tentativas radicais de transformar o mundo, de superar a dificuldades e perturbações típicas da humanidade por meio de um ajuste em larga escala, de uma solução ingênua e utópica, como o comunismo, o fascismo e o nazismo. Otimismo e utopia em excesso geralmente acabam em nada, ou, pior, dão em totalitarismo. Lenin, Hitler e Mao pertencem a essa categoria de otimistas inescrupulosos. A crise financeira e institucional da Europa é a mais recente consequência do pensamento utópico e do otimismo exagerado que são a base, o fundamento e a força propulsora da União Européia.

Pode-se reduzir a União Européia apenas a uma manifestação de otimismo utópico e insensato?
É uma ilusão, se não uma loucura, acreditar que os alemães e os gregos podem pertencer à mesma organização e se adequar às mesmas normas financeiras. Como impor a me ma moeda, o mesmo si tema e o mesmo modo de vida ao alemão trabalhador, cumpridor das leis. respeitador da hierarquia, e ao grego fanfarrão e avesso às normas?
Arrisco-me a dizer que a União Europeia é um fracasso porque contém as insanidades institucionais do velho experimento comunista. Assim como o comunismo soviético, a União Europeia é um objetivo inalcançável, pois foi escolhido pela sua pureza, que exige que todas as diferenças sejam atenuadas, os conflitos superados. e no qual a humanidade deve e encontrar como que sob uma unidade metafísica que jamais pode ser questionada ou posta à prova.

Apesar do colapso do comunismo e de outras tragédias semelhantes, as pessoas continuam caindo por causas utópicas. Por quê?
O pensamento utópico sobrevive porque não se trata de uma ideia de fato, mas de um substituto de una ideia, algo que serve de alivio para a difícil - e geralmente depressiva - tarefa de ver as coisas como elas são realmente. É uma forma de vício, um curto-circuito que afasta os indivíduos da razão e do questionamento racional e efetivo. O pensamento utópico nos remete diretamente para um objetivo, passando por cima da viabilidade do projeto. É fácil digeri-lo e se embeber do seu otimismo mal-intencionado e sem fundamento. O problema vem depois, quando a utopia termina em fiasco.

O ambientalismo é a grande utopia moderna?
Há dois tipos de ambientalista. O primeiro sonha com soluções amplas, inalcançáveis, cujo objetivo real não é promover o bem de ninguém nem do planeta. Mas sim inflar o ego de seus criadores. O segundo é realista, segue o caminho conservador e reconhece que o que deve ser feito em prol do ambiente é difícil, atinge um número limitado de pessoas ou de lugares e exige sacrifícios reais. O problema é que a questão ambiental foi parar nas mãos erradas. A esquerda transformou a proteção do meio ambiente em uma causa, em um movimento que necessita de intervenções estatais, em um assunto no qual há culpados e vítimas. No caso, os culpados são os capitalistas e a vitima é o planeta. A esquerda adora o culto à vítima.

Que tradição é essa?
É uma tradição esquerdista, que vem desde o século XIX e de Karl Marx, em particular. Consiste em julgar roda forma de sucesso humano a partir do fracasso dos outros. Com base nisso, engendrar um plano de salvação para os mais fracos. Esse é um dos motivos pelos quais os movimentos de esquerda continuam a fazer sucesso. Eles sempre oferecem urna causa justificável e uma vítima a ser resgatada. o século XIX, a esquerda pretendia salvar os proletários. Nos anos 60, a juventude. Depois, vieram as mulheres e, por último, os animais. Agora, eles pretendem resgatar o planeta, a maior de todas as vítimas que encontraram para justificar seus atos. Ora, as questões ambientais são reais e não podem ser enclausuradas na ideologia de esquerda. Temos o dever de cuidar do ambiente e sacrificar os nossos desejos para garantir um lar, um futuro para as próximas gerações. O problema é radicalizar a questão no bojo de um movimento com conotações até religiosas. Preservar o ambiente virou uma questão de fé. Está na hora de acabar com o pensamento de que a sociedade é um jogo de soma zero. Segundo o qual se um ganhar o outro tem de perder. Com práticas ambientais sustentáveis, todos ganham.

Onde mais se revela essa ideia da "soma zero" das relações humanas?
Ela é o refrão central dos socialistas, é o principal inimigo da caridade, da gentileza e da justiça. Na política internacional, essa forma de pensar se expressa com toda a clareza no antiamericanismo. Os Estados Unidos, a maior economia do mundo, o maior poderio militar, se tornaram o alvo principal dos ressentidos, dos que se consideram fracassados por causa do sucesso alheio. O ataque às Torres Gêmeas há dez anos, é uma mostra do que o ressentimento coletivo estimulado pela falácia da soma zero é capaz de causar.

Por que o senhor critica tanto a política de imigração dos países europeus?
A imigração em massa não é um assunto fácil. Basta escrevermos a palavra imigração para sermos mal interpretados. Não sou contra a imigração. Minha opinião é que os imigrantes só se adaptarão a um país se forem incorporados legal e culturalmente à nação que os recebe. Para que isso dê certo, os forasteiros precisam superar o sentimento de distância que eles possuem em relação ao novo país. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos, no passado. Os países europeus fazem justamente o oposto ao incentivar o multiculturalismo: encorajam as comunidades de estrangeiros a manter sua cultura e identidade, a não se misturar. Dessa forma, os imigrantes passam a se definir como diferentes, afastados, excluídos da comunidade, o que só faz crescer as tensões entre os grupos étnicos. Os recentes tumultos em Londres devem-se, em parte, ao multiculturalismo.

Análises como essa sua visão têm sido atacadas por, potencialmente, fomentar atentados como o que traumatizou a Noruega, em julho. Isso é justo?
Alguém culpa Jean-Paul Sartre pelo genocida cambojano Pol Pot? Karl Marx deve ser culpado pelos assassinatos de Stalin? Os socialistas alemães são responsáveis pelos atos da organização terrorista Facção do Exército Vermelho? Extremistas como o norueguês Anders Breivik podem agir em parte motivados por ideias, sim, da mesma forma que eu ou qualquer outra pessoa. Sempre que um lunático de extrema direita pratica um crime terrível, os intelectuais de esquerda se unem para, em coro, dizer: é culpa do pensamento conservador. Eles se esquecem dos crimes muito mais graves que foram cometidos em nome dos ideais de esquerda. Indivíduos como Breivik cometem crimes não por causa das ideias que eles comungam com outras pessoas, mas por causa de algo que os afasta, isola e diferencia de outras pessoas. Eles matam por total e absoluto desprezo por vidas inocentes.

O que é fazer parte de uma minoria no mundo acadêmico?
Eu acordei do meu delírio socialista durante os tumultos de maio de 1968, em Paris. No meio da destruição, das barricadas e das janelas quebradas, percebi que aqueles estudantes estavam intoxicados pelo simples desejo de destruir coisas e idéias, sem a mínima preocupação em colocar algo relevante no lugar. Foi difícil aceitar que meu futuro era me tornar um paria intelectual em meio à maioria esmagadora de esquerdistas.
Em todo o mundo, as universidades têm uma declarada inclinação pela esquerda. É difícil explicar o motivo dessa propensão esquerdista, algo que persiste desde o Iluminismo. Na minha tentativa de desvendar esse mistério, cheguei à seguinte conclusão: quando uma pessoa começa a pensar sobre as grandes questões que afligem o homem e a sociedade, tende a aceitar as posições da esquerda, pois elas parecem oferecer soluções. Ao pensar além, ao se aprofundar, a pessoa aprende a duvidar e rejeita o argumento esquerdista. Nas universidades muita gente pensa, mas poucas refletem profundamente.

O que é um conservador?
É alguém que considera a liberdade um valor, um objetivo, mas não chama isso de um ideal. O conservador reflete sobre coisas reais e sabe que a liberdade verdadeira é obtida sob leis e regras, pois sem instituições não há liberdade. mas selvageria. 

- Veja, 21 de setembro de 2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sobre política e fraldas



Certa vez disse Lorde John Acton: “o poder tende a corromper; o poder absoluto corrompe de maneira absoluta”.

O que ele parece ter se esquecido de mencionar – ou talvez não tenha tido a perspicácia em notar – é que, certo, o poder tende a corromper. Todos sabem. Mas o que dizer do “não-poder”?

O não-poder tem a mesma capacidade de corromper que tem seu oposto. Vejam bem. Metrópole genérica. Hora apertada de almoço que parece correr como segundos. Você. Dia dez. Banco. Uma, duas, três contas a pagar. Fila. Então você vê aquela mocinha no auge dos seus vinte, com uma gravidez que nem aquela beata da missa de domingo é capaz de enxergar. Ela acabou de passar a perna em 30 pessoas honestas com tão pouco ou menos tempo livres que ela.

Você fica irado.

Não mais que aquele taxista barrigudo e suado à sua frente que faz questão de esbravejar pelos vinte e cinco minutos seguintes. Um quarto do seu horário de almoço (ou talvez metade) foi reduzido a um investimento numa crise de gastrite nervosa.

Enquanto você sai nervoso para engolir o almoço, aquele taxista que perdeu quatro ou cinco minutos com a esperteza da mocinha decide que avançar uns 3 ou 4 sinais vermelhos não é assim tão errado, ninguém respeita mesmo. Ele escapa de uma por pouco. Não que a van que vinha pelo cruzamento tenha tido a mesma sorte – ou a esposa do motorista, horas mais tarde.

Irritados ficaram centenas ou mesmo milhares de motoristas, passageiros, pedestres. Uma mulher que decidiu que perder a hora no salão era suficiente para afanar o cartão de crédito do marido.

O assessor de gabinete que já estava atrasado não viu grande problema em usar o trânsito como desculpa. Afinal, dizem por aí que o chefe está envolvido “naquele esquema”.

O não-poder corrompe porque a sua negatividade implica também – para a maioria das pessoas – a não-responsabilidade. É simples e conveniente colocar o poder político numa grande caixa e usá-la como fuga final para a corrupção pessoal, gerada por uma necessidade de suprimir o sentimento de estar sendo eternamente passado para trás.

Para a psicologia, a transferência de culpa ou responsabilidade no indivíduo está na luta entre o ego – ligado à racionalidade e responsabilidade – e o id, o eu primitivo, regido por desejos e impulsos de prazer. O id busca de todas as formas necessárias o apaziguamento das tensões.

E o que explica a transferência da responsabilidade social? Afinal, o político é corrupto porque é político?

O humano não se corrompe porque o poder o força. O que leva à corrupção é o sentimento de inferioridade e a necessidade de compensação surgida desse estado. Está na hora de a sociedade tirar as fraldas, jogar fora a mamadeira e se libertar do id mandão.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Assange x Zuckerberg: Uma verdade que dói

by: GordoNerd

Pois é, coleguinhas. Hora de repensar alguns conceitos.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Waking Life


Você está sonhando. Então acorda. Vai recobrando os sentidos. Aos poucos, no entanto, vai percebendo que há algo de errado. E percebe que ainda está sonhando. Um sonho num sonho. Então você acorda novamente e ainda está sonhando.
"O sonho é o destino". Com essa frase embarcamos na viagem onírica proposta por Richard Linklater (Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol, A Scanner Darkly). A princípio uma junção desconexa de diálogos e um forte impacto visual sobre o telespectador, o filme logo vai se desenrolando em temas filosóficos que vão dos complexos aos mais simples - aqueles que mesmo o ser humano mediano é capaz de discutir numa mesa de bar.
O personagem se confunde com o espectador, que se torna um onironauta, enquanto as figuras animadas atingem um grau de abstração artística com cores e texturas dançando na tela.
A cada sonho, os personagens travam com o jovem discussões existenciais que vão desde a reencarnação até a evolução da espécie humana, e discussões teóricas que vão de Dante a Philip K. Dick (que foi claramente uma inspiração a Linklater). O curioso sobre o filme é que nenhum dos personagens tem nome, mas não importa - porque eles têm muito a dizer.
O filme é um impacto não só estético, mas também filosófico: afinal, podemos delinear com perfeição a fronteira entre realidade e sonho? E mais, podemos definir com firmeza o que é a realidade?
Para quem tenta fugir da "corrida de ratos".
- Não me sai da cabeça algo que você me disse.
- Algo que eu disse?
- É. Sobre a sensação de que você observa a sua vida, da perspectiva de uma velha à beira da morte... Lembra?
- Sim... Ainda me sinto assim, às vezes. Como se visse minha vida atrás de mim. Como se minha vida desperta fosse de lembranças...
- Exatamente. Ouvi dizer que Tim Leary, quando estava morrendo, disse que olhava para seu corpo que estava morto, mas seu cérebro estava vivo. Aqueles 6 a 12 minutos de atividade cerebral depois que tudo se apaga. E um segundo nos sonhos é infinitamente mais longo do que na vida desperta. Entende?
- Claro. Tipo, eu acordo às 10:12h. Então, eu volto a dormir e tenho sonhos longos, complexos, que parecem durar horas. Aí eu acordo e são 10:13h.
- Exato. Então aqueles 6 a 12 minutos de atividade cerebral... podem ser a sua vida inteira! Quero dizer, você é aquela velha, olhando para trás e vendo tudo.
- Se eu sou, o que você seria nisso?
- O que eu sou agora. Quero dizer, talvez eu só exista na sua mente. Eu sou apenas tão real quanto qualquer outra coisa.
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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A quem interessar

Dizem que os piores monstros são os que nós criamos. É um fato. Ninguém sabe ser melhor algoz de outro do que de si. E eu tenho uma fábrica de produção em escala de monstros. E a cada dia me aperfeiçoo mais. Eu tenho a incrível capacidade de me inflingir sofrimento das maneiras mais cruéis possíveis. Eu não perco sequer uma oportunidade de tornar uma situação monstruosa, hostil, vil.
Sou praticante da autofagia mental, emocional e espiritual. Eu me devoro diariamente. Quem me olhar com olhos profundos achará difícil encontrar algum fragmento da minha pele que não esteja constantemente em carne viva, sangrando. Eu me causo tantas feridas o tempo todo que hoje é difícil encontrar algo ou alguém que não me machuque. Dói por fora, dói por dentro. Dor, dor, dor. Eu me rasgo e me estraçalho e berro internamente para que alguém me salve, mas não há ninguém dentro. É uma casa vazia, sem ocupantes, sem móveis, e só o que me vem em retorno é o eco do meu próprio grito, clamando de volta como quem diz numa sentença velada que ninguém virá em meu socorro. Sou incapaz de gritar para o mundo. Não por orgulho, nem por estoicismo. Pura e simples falta de atitude. Disseram-me que eu não tenho atitude, e nunca havia me julgado como covarde antes. Mas é verdade. Porque até minha covardiaa é uma forma de me causar dor, porque me impeço de me arriscar num suporto autosacrifício por terceiros. Depois me arrependo e os culpo.
Criei outro monstro.
Sou tão covarde e medíocre em tantos aspectos. Até mesmo na escrita. Nunca escrevo em primeira pessoa. É uma fuga. Não sei pedir socorro e não quero e nem vou. Permanecerei nesse estado de sofrimento calado que vai me sugar e me engolir e me devorar aos poucos, com juma lentidão cruel e sadomasoquista que só eu, como algoz de mim, sou capaz de proporcionar.
O masoquista é um suicida frustrado que vive esperando o golpe de misericórdia que por fim será capaz de ceifar-lhe a sobrevida.

Untitled

O vazio não é a ausência de dor. O vazio não é a falta de felicidade. O vazio é a dor em si, em seus estados mais puros. É um monstro invisível, amorfo, que se espalha pela atmosfera tal um veneno. É a quimera, o monstro mitológico criado a partir de todas e ada uma de suas dores, seus medos, seus pequenos monstros, que, não contentes apenas em colocar-lhe fim à vida, preferem torturar, espancar, esmagar.
O vazio é a presença sufocante de tudo aquilo que dói em um único lugar. É o vômito contido, produto do enjôo, que não sai e nem volta e que nos forçamos a mastigar e engolir repetidamente.
O que é o vazio, então? O que o caracteriza? Ele é a aceitação da dor, a abnegação da luta, é o estágio final, a entrega.
Não, o vazio não se trata de ausência.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Mas não pense...

Que eu esperarei para sempre. Não que eu não queira. Por mim, eu esperaria. Mas o ciúme fará secar. O desejo não realizado sufocará. E, lenta e gradualmente, a paixão que eu tanto tento nutrir e cuidar fenecerá até, finalmente, virar uma sombra. E o tempo, responsável por isso, nem me fará o favor de me deixar esquecer.
É uma pena.

sábado, 31 de julho de 2010

Saia de imediato, Imediato!



Numa dessas conversas por aí, no msn, eu me dei conta - talvez pela primeira vez - do quanto me sobra juventude. É curioso, porque eu sempre me vi como alguém que não cabe dentro do próprio corpo tamanha alma velha que nele habita. Mas foi hoje mesmo, e nessa mesma conversa - reclamando para mim, com impaciência, da demora em ser respondida - que percebi que isso não passa de mais um defeito da minha juventude: querer antecipar a velhice. Ser reconhecida e me gabar de toda a experiência e maturidade que carrego comigo num papiro quilométrico.
Mas, vejam bem, não passo de uma jovem. Não posso desfrutar das licenças de ser criança. Nem do fato de ser adolescente - que já é autoexplicativo. Muito menos do peso de ser adulta - por mais que, por lei e na prática, eu seja. E muito menos ainda do ápice que eu almejo tanto - a velhice.
Não que eu deseje a velhice do corpo. Convenhamos que o meu, aos seus 21 aninhos, está muito mais do que bem servido. É a velhice do caráter, a velhice emocional. A falta de desespero da paixão que insiste em vir com aquele quê shakesperiano (nossa, isso tá certo?) de imediato.
Estou tão imediata que quero antecipar até mesmo a velhice. Que quero maturar paixões que ainda estão por nascer.
Assim sufocarei todas.
Tempo ao tempo. Que não muda nada. Mas que amorna. Acalma.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Rogai por nós, pecadores.

Não cabe a mim discutir aqui a existência de Deus, de deuses, de Allah ou do que queiram chamá-lo.
Mas eu fico pensando no porquê da existência das divindades, forças maiores e outros mundos. Não sou uma cética eu mesma.
Mas então, do que se trata? É o sentimento da perda do pai, de quem nos livramos tão cedo? A mão que nos conduz, tanto pelo carinho como pela punição?
Para quê tantos deuses, tantos senhores, tantos ídolos?
Honremos a natureza e agradeçamos a quem ela nos deu de tão bom grado - ou por simples acaso -, mas vivamos nós mesmos nossas vidas. De agora até a hora de nossa morte, e que assim seja.
Muitas vezes nos perdemos em meio à grandeza das divindades e no tanto que elas podem nos oferecer - e nos tirar - que esquecemos que viver já é, por si só, um espanto.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Tava tocando no VH1

She had something to confess to
But you don’t have the time so
Look the other way
You will wait until it's over
To reveal what you’d never shown her
Too little much too late
Too long trying to resist it
You’ve just gone and missed it
It's escaped your world

Can you see that I am needing
Begging for so much more
Than you could ever give
And I don’t want you to adore me
Don’t want you to ignore me
When it pleases you
And I’ll do it on my own

I have played in every toilet
But you still want to spoil it
To prove I’ve made a big mistake
Too long trying to resist it
You’ve just gone and missed it
It's escaped your world

Can you see that I am needing
Begging for so much more
Than you could ever give
And I don’t want you to adore me
Don’t want you to ignore me
When it pleases you
And I’ll do it on my own
I’ll do it on my own

Muse, Muscle Museum

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Oh well.

(Editado)

O que dizer do peso dos segundos sobre as minhas costas me afogando nas areias do tempo? São menos de dois dias, e a secura na minha garganta não é normal. Nem é normal a quantidade de vezes que me levanto e ando pela casa à procura de algo que sei que não está lá. Nem a necessidade que sinto de escrever a respeito. Mas só tenho duas mãos e estou inflada de sentimento. Não é justo com elas. Não consigo (d)escrever as coisas com a devida clareza. Não é intenso o suficiente para me acalmar. Não é normal. Não consigo escrever. Não consigo esquecer. É desespero o que sinto ao correr por esse imenso corredor cuja saída nunca está próxima o suficiente? Ou é vontade de alguma coisa que sei que não vou conseguir alcançar?

Sonho com corredores e portas e trancas e chaves.

E com esse fio que me puxa.

Os fios do destino me puxando como a um brinquedo para algo que não posso viver.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Instintivo

Tinha tempo que eu não parava para perceber o quanto os cheiros são importantes e até mesmo decisivos no nosso interesse pelas pessoas. Eu uso tanto a cabeça que às vezes me esqueço do instintivo, do animal. Mas voltei a pensar nisso.
Conter o lado animal é uma tarefa difícil, quase impossível.
O que somos, afinal: o caçador, armado, concentrado, focado e racional ou somos a fera que corre a esmo, sem um destino, sem um objetivo claro que não seja a própria sobrevivência - porém livre?
De que lado do espelho você está? E como conter o que o reflexo lhe diz a todo tempo?

domingo, 9 de maio de 2010

Para não dizer que não falei das flores...

Eu tento. Mas não consigo me acostumar com a correria da semana que precede esse dia, do desespero em consumir, gastar e agradar. Não consigo entender o dogma do almoço de domingo, das homenagens melosas e das declarações e abraços.
Não sei se do distanciamento proposital das relações humanas ou de alguma questão existencialista, mas é fato que não me coloco dentro do paradigma social de todas essas celebrações ocidentais. Que seja em palavras simples, eu não me encaixo mesmo.
Mas continuo dizendo "ah, amanhã é dia das mães. Queria tanto passar com ela."
Quer saber? Queria passar todos.
Agradeçam malditos, não uma vez por ano, mas todos os dias.