terça-feira, 15 de setembro de 2009

Angústia

Todos entendem fome, doença, pobreza, escravidão e tortura, mas ninguém seria capaz de entender que, no momento em que cruzei a rua com todos esses privilégios – de não sentir fome, não ser presa ou torturada – era apenas mais uma forma sutil de tortura.
Eles me foram dados, um lar, uma família, comida, amores... como uma miragem.
Dados e negados.
Estavam presentes aos olhos de quem me dizia “como você tem sorte”, mas invisíveis para mim, porque a agonia, este veneno misterioso, corroeu todos eles: distorceu os relacionamentos, apodreceu a comida, assombrou o lar, instalou a guerra onde antes havia paz, tortura onde não havia instrumentos, e inimigos onde antes não havia ninguém contra quem lutar.
A angústia é essa mulher muda que grita em meus pesadelos.