sábado, 31 de maio de 2008

Tastes change


Quando ouvi pela primeira vez, nem dei bola. Não sei se é porque minha mãe, meus colegas e meus vizinhos cantavam 24/7 (e, na adolescência, a gente tende a desprezar tudo o que se torna popular) ou se realmente não me apeteceu.
Algum tempo, porém, decidi ver qual era a da moça e comprei uma coletânea (faço assim, sempre que tenho dinheiro e me interesso pelo artista).
Foi paixão, mesmo, à segunda vista.

Apaguei a luz do meu quarto
Pra ficar com você dentro de mim
Quando parei de olhar pro céu,
Vi em que estrada te perdi
E apaguei a luz do meu rastro
Pra não saber do caminho onde eu passo
Vivendo de coisas esquecidas e lembradas
Não pude ver meu futuro nos seus olhos escuros
Então fiquei com você pra sempre abraçada
Até acabar a madrugada e amanhecer em julho

sábado, 24 de maio de 2008

Love confessions




Eu sinto medo de você. Das barreiras que impõe, sem palavras, e que meu coração interpreta angustiado, nas entrelinhas do que você não diz.
Sinto medo de você, e dessa doçura tênue e traiçoeira, que oculta a muralha férrea, que me assusta. Porque você é razão, auto-controle e frieza. Porque nunca se solta ou se entrega às paixões.
Eu tenho medo. Porque você é capaz de retirar-me todas as camadas, deixando-me quase em carne viva, enquanto não perde sequer um fio de cabelo, a pele ou o vício de predador. Porque toma o meu lugar.
Tenho medo de você. Porque consegue sonegar os "backs" de todos os meus "feeds".
E me tem nas mãos como a um brinquedo.
E porque me confunde e me desmonta. Sem nenhuma culpa.
Sinto medo da amplidão de todas as minhas expectativas.
Sinto medo dos extremos que permeiam cada capítulo e cada cena do nosso roteiro.

Day 2/15


O talento é de família!
(sem partitura, hein!)

terça-feira, 6 de maio de 2008

Para assistir sem pré-conceitos

O que pode ser mais interessante: Franz Kafka escrever um livro sobre Salvador Dalí e Pedro Almodóvar, Dalí pintar um quadro retratando Almodóvar e Kafka, ou Almodóvar rodar um filme sobre Kafka e Dalí? Naked Lunch consegue ser, ao mesmo tempo, isso tudo e nada disso. Na realidade, o que parece ser uma obra de Kafka dirigida por Almodóvar com a fotografia assinada por Dalí é uma adaptação fiel ao absurdo "O Almoço Nu", de William S. Burroughs, beatnik por excelência e escritor por generosidade. Quem aceitou tamanha responsavilidade de adaptar a tal ousadia literária foi o não menos genial David Cronenberg.
O que chama atenção no filme é a quantidade de citações no decorrer da história, que o diretor praticamente faz saltar aos olhos de um espectador mais atento. É divertido (para os cinéfilos como eu, pelo menos...) procurar situações ou frases de efeito já usadas em outros filmes. A referência mais clara está na ambientação. A trilha sonora carregada de jazz, a indumentária e os cenários remetem aos anos 30; a exótica atmosfera de mistério reforça uma impressão de distanciamento da realidade, confirmada pelo uso de drogas, administradas a granel. O filme, de fato, é recheado de situações inverossímeis e surreais, fruto de uma mente fértil, turbinada por "whatever that should eat brains" (ha).
O personagem principal é um alter ego do autor. O nome da empresa de inteligência (Interzone, Inc.) é usado como uma ironia intertextual, como se toda a história se passasse numa zona intermediária, uma realidade paralela. Ou, talvez, uma really bad trip.
A trama é muito densa, complexa e rica em detalhes e nuanças. Basicamente, trata de um escritor que trabalha como exterminador de insetos e que, junto com a esposa, torna-se viciado em inseticidas (!). Detido pela polícia, ele é atormentado por delírios de insetos (!!) que o incumbem de matar sua esposa (!!!), o que ele acaba fazendo "acidentalmente". Foragino, suas alucinações o levam a um lugar chamado Interzone, onde, com sua máquina de escrever (que agora se transformou - pasmem - em um inseto), ele narra por relatórios a seus superiores (os insetos, claro) a vida dos que habitam o lugar, geralmente outros escritores obcecados por suas máquinas de escrever e por drogas pesadas. Ah, e todos - ou quase - homossexuais.
Se parece estranho, pode ficar muito mais. Cada escritor é um agente disfarçado, infiltrado no local com uma missão semelhante à de Bill, o nosso protagonista: descobrir o gerenciador local no tráfico de lacraias pretas brasileiras (!!!!), matéria-prima de uma droga sintetizada na cidade, de efeito superior ao das demais.
Abuso de drogas, alucinofilia, homossexualidade, humor nevrálgico e um roteiro inconseqüente levado às últimas conseqüências. Esta indigesta alquimia fez do filme um retumbante fracasso. Verdade seja dita: o filme não recebeu a atenção que merecia nem a paciência que sua degustação plena exige. Mesmo assim, também é verdade que o diretor incorreu em alguns erros que poderiam ter sido evitados e dado ao filme, de modo geral, um tom diferente. Em certas passagens, algumas coisas ficam muito claras, mas a forma não-linear como isso é passado no início do filme é muito mais efetiva, dando ao espectador a idéia de estar mesmo sob o efeito de alguma droga, efeito que vai se perdendo à medida que o filme ganha em inteligibilidade. Certas entrelinhas deveriam ter sido deixadas à percepção do espectador ao invés de serem denunciadas (digo isso, claro, como uma confessa amante das entrelinhas).
Por fim (enfim...), juro para mim que ia parar de implicar com isso, mas é muito mais forte que eu. O que - pelo amor de Deus - leva alguém a traduzir "The Naked Lunch" como "Mistérios e Paixões"?!
...
Indicado para quem pensava que "Quero Ser John Malkovich" era o máximo em estranheza e bizarrice. Morra de inveja, Spike Jonze!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Always cello!

Não sei de onde veio e nem exatamente como surgiu, mas nunca neguei meu amor por esse instrumento. Atribuo possivelmente a um cd do Yo-Yo Ma que eu ganhei do meu pai em algum aniversário (talvez nove ou dez anos). Mas o fato é que não há, no mundo, um instrumento que me dê maior prazer em tocar ou ouvir. Mesmo que, por alguns motivos, eu tenha me desfeito do meu, fique aqui constado que ainda serei ouvida por milhares de pares de ouvidos.
Algum dia.
É, hoje estou musical...
Algumas referências:
Pelos tributos (String Quartet tocando "Hands Clean", da Alanis Morissette)
Por um sonho (Julian Lloyd Weber tocando "Air", de Bach)
Pela originalidade (Apocalyptica e Linda Sundbald, "Faraway Vol. 2")

Degustação musical

Uma mistura instigante. Performático, dramático, sensual. Inteligente, por outro lado. E original. Isso é Dresden Dolls.

Ah, ouçam e deliciem-se, é o que eu posso dizer.