domingo, 8 de novembro de 2009

Concomitante

Tempus fugit.
Enquanto marmanjos bradam gols e batem suas canecas sobre os balcões. Enquanto mães são puxadas por crianças deslumbradas pela rubra decoração de Natal. Enquanto Papais-Noéis suam debaixo das falsas barbas em roupas que não condizem com o clima tropical. Enquanto dedos deslizam nervosos pelas letras, numa falha tentativa de acompanhar o pensamento. Enquanto vozes gemem, arranhando as gargantas. Enquanto pulmões tragam fumaças de cigarro. De monóxidos e dióxidos.
Tempus frangit.
Enquanto as vidas percorrem lenta e inevitavelmente caminhos que se cruzam, descruzam, entrelaçam e desenlaçam.
Até caírem, mais cedo ou mais tarde, no fosso fétido e inevitável da morte.
Enquanto astrólogos tentam interpretar. Enquanto filósofos tentam determinar o propósito.
Enquanto a natureza se ri desses pequenos instetos racionais.
Não há motivos para o caos.