domingo, 9 de novembro de 2008

Uma análise sobre a animação "Robôs"

[Trabalho de Sociologia - achei que ficou bom o suficiente pra ser postado aqui.]
É... Deane está me fazendo pensar =P
À primeira vista, a animação gráfica “Robôs” pode soar como uma inocente história de cunho moral para crianças. O filme, contudo, carrega nas entrelinhas uma forte carga crítica à nossa sociedade – que só se pode notar com alguma bagagem teórica sobre o assunto.

O filme começa introduzindo a história do Robô Rodney Lataria, desde seu “nascimento” até sua vida presente. Paralela à história de Rodney, vemos também a história de seu pai, um robô cuja função é a de lavador de pratos em um simplório restaurante. Nesse momento, percebemos que o contexto da vida desse robô e da infância de Rodney é o que Bowman descreve como “capitalismo pesado”.

O pai de Rodney desejava ser músico. Entretanto, buscando a estabilidade social (ainda que precária), ele se vê forçado a ser um lavador de pratos até o fim de sua vida – sua herança social a ser cumprida. Porque nesse capitalismo pesado estavam incutidas as idéias de permanência, estabilidade, continuidade.

O capitalismo pesado, dotado dessa ideologia, reduziu o homem a um meio de produção, e a natureza a uma ferramenta de produção, atacando tanto sua própria substância como sua relação mútua. Reduziu pessoas competentes a porcas e parafusos de uma máquina monstruosa, barulhenta e imensa, que não fazia outra coisa que não desgastar lentamente todos seus parafusos e porcas. É nesse contexto que Rodney se desenvolve, vendo seu pai definhar lentamente, consumido pelas engrenagens do sistema vigente.

Essa sociedade do capitalismo pesado possuía um líder, o Grande Soldador. Ele não deve ser visto como um líder exemplar, considerando que seu papel se resumia a dar alguma esperança àquela população, reparando suas peças, sob o lema de “você pode brilhar, não importa do que seja feito”.

Rodney cresce – sempre com peças remanufaturadas – visionário e tendo a figura do Grande Soldador como seu exemplo. Quando seu pai mostra sinais claros de desgaste, Rodney decide ir a Robópolis – a grande metrópole dos robôs – em busca do Grande Soldador e de uma mudança em seu destino; ele, afinal, não aceitaria uma vida como lavador de pratos.

Concomitantemente à insignificante transição de Rodney está a transição de todo um sistema. Dom Aço, o robô que ficou a cargo das indústrias do Grande Soldador, começou a notar que a sociedade estava estagnada, já havia atingido seu ápice lucrativo, e decidiu que uma reforma era necessária. É nesse momento que podemos destacar o texto de Savana Melo. A plasticidade do capitalismo é tamanha que, ao se adaptar a uma nova realidade, ele moldou não somente a si mesmo, mas também a própria sociedade – o momento em que Dom Aço faz com que os robôs acreditem que eles desejam aquelas mudanças (que eram completamente desnecessárias), sob a bandeira de: “por que ser você mesmo quando você pode ser novo?”.

Para os robôs que se recusavam a aderir à nova ordem social (ou não podiam pagar por ela) eram submetidos a uma verdadeira “limpeza social”, e eram forçados a fugir e viver à margem da sociedade para não serem transformados em sucata.

Esse novo capitalismo, chamado por Bowman de “capitalismo leve”, rompeu com todos os laços existentes com o passado, adotando uma política de constante inovação, de caráter estético e efêmero. É nesse momento que os robôs (em especial Rodney), passageiros daquele avião da nova sociedade que se construía, descobriram-se sem um piloto – sem um líder. Não havia mais a figura do Grande Soldador, e Dom Aço se assemelhava mais a um algoz do que a um líder.

É com muita dificuldade que Rodney – produto daquela sociedade inconstante, sem raízes – propõe uma movimentação daqueles robôs marginais, reestruturando a moral do Grande Soldador como líder e trazendo a estabilidade de volta àquela sociedade tão instável.

O filme traz um final otimista. Mas, ainda assim, é um bom exemplo. Sobre o que significa ser humano. Em uma cidade. Em um país. Em transição. Em uma massa. Transformado pela ciência. E sob um poder organizado. Sujeitado a controles tremendos, em uma condição causada pela mecanização. Depois de uma tardia falha de esperanças radicais. Em uma sociedade que não é uma comunidade, que desvalorizou as pessoas. Pertencendo a um poder feito de números multiplicáveis que tornou o “eu” algo negligenciável. Que permitiu selvageria e barbarismo em suas próprias metrópoles. A bela supermaquinização que proporciona uma nova vida à população imensurável. Que lhes nega o direito de viver. Que lhes pede para trabalhar e morrer de fome enquanto outros gozam dos valores tradicionais.
Um bom exemplo de como funcionam as coisas.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Back in Black?

Re-aberto.

[hífen proposital]

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Duas de uma vez

I - À mesa
Foi com Milan Kundera que comecei a produzir, de fato, neste blog. E é com ele, agora, que o retomo. Thomas, em "A Insustentável Leveza do Ser", desvalorizava toda e qualquer noção de destino, e toda noção de amor de fato, usando do mesmo argumento de seus defensores. Dizia ele que tudo não passava de uma junção de acontecimentos desconexos, desimportantes. Que importância poderia ter o destino, se ele poderia ser alterado drasticamente pela menor mudança?
Ao contrário de Thomas, o destino me fascina. As teias tênues que ele tece, tácito, à nossa volta. Se eu tivesse ou não feito algo não é fator determinante para o entrelace de algumas de muitas histórias. Não minha ação, mas a razão que me levou a agir. Acredito no entrelace involuntário das pessoas. E acredito na força atrativa que as une, não importando a direção de suas vontades.
Laços nunca se rompem de fato.
E, se me permitem um palpite, acho que é porque eles existem mesmo antes de nós.
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II - Simples X Complexo
Tive uma discussão há alguns dias sobre complexidade e simplicidade. E não, não mesmo, não consigo classificar a humanidade num conceito simplista. Muito menos o indivíduo. Não consigo acreditar na simplicidade dos egos. E fico desapontada com essa tendência simplificadora que cerca o nosso - ou pelo menos o meu - cotidiano. Sinto falta da complexidade dos indivíduos, aquilo que os torna mais profundos. Sinto falta daquela complexidade tão profunda, tão entranhada, capaz de fazer parecer simples e comum uma compreensão mútua e silenciosa que duas pessoas podem ter em apenas uma troca de olhares - como uma simples junção de chave e fechadura.
Simples é complexo.
That's the way. I like it.

sábado, 7 de junho de 2008

"Mãããeeeeeeê!"

Chorei como um bebê ontem.

Como não chorava há muito, muito tempo.

Eu tenho medo do escuro, mas ainda posso rezar.


When I find myself in times of trouble
Mother Mary comes to me
Speaking words of wisdom: let it be
And in my hour of darkness
She is standing right in front of me
Speaking words of wisdom: let it b.
Let it be, let it be
Let it be, let it be
Whisper words of wisdom: let it be

And when the broken hearted people
Living in the world agree
There will be an answer: let it be
For though they may be parted there is
Still a chance that they will see
There will be an answer: let it be
Let it be, let it be
Let it be, let it be
There will be an answer: let it be
Let it be, let it be
Let it be, let it be
Whisper words of wisdom: let it be

And when the night is cloudy
There is still a light that shines on me
Shine on until tomorrow: let it be
I wake up to the sound of music
Mother Mary comes to me
Speaking words of wisdom: let it be
Let it be, let it be
Let it be, let it be
There will be an answer: let it be
Let it be, let it be
Let it be, let it be
Whisper words of wisdom: let it be!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Maré.

O oitavo álbum de Adriana Calcanhoto (sim, CalcanhoTo... ¬¬) é de uma suavidade tamanha que quase me fez cair em sono profundo aqui. Não que isso seja ruim (significa que eu estou cansada e estressada e que a sonoridade dela me fez relaxar).

Well, well, gostei. Esse tipo de jogos de palavras presente nas músicas de Adriana é algo raro (considerando os bons, apenas) e muito gostoso, e que me apaixona.

E a releitura de "Três", de Marina Lima... que delícia!

Ahh... ouçam!

Gostei muito dessa:

A uma hora dessas
por onde passará seu pensamento
Por dentro da minha saia
ou pelo firmamento?

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Deixem-me adormecer!



Que minha cama se torne um invólucro lacrado pelas agridoces palavras de Hypnos, como um casulo, da qual eu só possa sair quando não mais sangrar.
E que o casulo possa evitar que essa futura borboleta se choque contra a luz novamente.

domingo, 1 de junho de 2008

I want something good to die for, to make it beautiful to live!

ROCK IT, BABE! BIG STYLE!

sábado, 31 de maio de 2008

Tastes change


Quando ouvi pela primeira vez, nem dei bola. Não sei se é porque minha mãe, meus colegas e meus vizinhos cantavam 24/7 (e, na adolescência, a gente tende a desprezar tudo o que se torna popular) ou se realmente não me apeteceu.
Algum tempo, porém, decidi ver qual era a da moça e comprei uma coletânea (faço assim, sempre que tenho dinheiro e me interesso pelo artista).
Foi paixão, mesmo, à segunda vista.

Apaguei a luz do meu quarto
Pra ficar com você dentro de mim
Quando parei de olhar pro céu,
Vi em que estrada te perdi
E apaguei a luz do meu rastro
Pra não saber do caminho onde eu passo
Vivendo de coisas esquecidas e lembradas
Não pude ver meu futuro nos seus olhos escuros
Então fiquei com você pra sempre abraçada
Até acabar a madrugada e amanhecer em julho

sábado, 24 de maio de 2008

Love confessions




Eu sinto medo de você. Das barreiras que impõe, sem palavras, e que meu coração interpreta angustiado, nas entrelinhas do que você não diz.
Sinto medo de você, e dessa doçura tênue e traiçoeira, que oculta a muralha férrea, que me assusta. Porque você é razão, auto-controle e frieza. Porque nunca se solta ou se entrega às paixões.
Eu tenho medo. Porque você é capaz de retirar-me todas as camadas, deixando-me quase em carne viva, enquanto não perde sequer um fio de cabelo, a pele ou o vício de predador. Porque toma o meu lugar.
Tenho medo de você. Porque consegue sonegar os "backs" de todos os meus "feeds".
E me tem nas mãos como a um brinquedo.
E porque me confunde e me desmonta. Sem nenhuma culpa.
Sinto medo da amplidão de todas as minhas expectativas.
Sinto medo dos extremos que permeiam cada capítulo e cada cena do nosso roteiro.

Day 2/15


O talento é de família!
(sem partitura, hein!)

terça-feira, 6 de maio de 2008

Para assistir sem pré-conceitos

O que pode ser mais interessante: Franz Kafka escrever um livro sobre Salvador Dalí e Pedro Almodóvar, Dalí pintar um quadro retratando Almodóvar e Kafka, ou Almodóvar rodar um filme sobre Kafka e Dalí? Naked Lunch consegue ser, ao mesmo tempo, isso tudo e nada disso. Na realidade, o que parece ser uma obra de Kafka dirigida por Almodóvar com a fotografia assinada por Dalí é uma adaptação fiel ao absurdo "O Almoço Nu", de William S. Burroughs, beatnik por excelência e escritor por generosidade. Quem aceitou tamanha responsavilidade de adaptar a tal ousadia literária foi o não menos genial David Cronenberg.
O que chama atenção no filme é a quantidade de citações no decorrer da história, que o diretor praticamente faz saltar aos olhos de um espectador mais atento. É divertido (para os cinéfilos como eu, pelo menos...) procurar situações ou frases de efeito já usadas em outros filmes. A referência mais clara está na ambientação. A trilha sonora carregada de jazz, a indumentária e os cenários remetem aos anos 30; a exótica atmosfera de mistério reforça uma impressão de distanciamento da realidade, confirmada pelo uso de drogas, administradas a granel. O filme, de fato, é recheado de situações inverossímeis e surreais, fruto de uma mente fértil, turbinada por "whatever that should eat brains" (ha).
O personagem principal é um alter ego do autor. O nome da empresa de inteligência (Interzone, Inc.) é usado como uma ironia intertextual, como se toda a história se passasse numa zona intermediária, uma realidade paralela. Ou, talvez, uma really bad trip.
A trama é muito densa, complexa e rica em detalhes e nuanças. Basicamente, trata de um escritor que trabalha como exterminador de insetos e que, junto com a esposa, torna-se viciado em inseticidas (!). Detido pela polícia, ele é atormentado por delírios de insetos (!!) que o incumbem de matar sua esposa (!!!), o que ele acaba fazendo "acidentalmente". Foragino, suas alucinações o levam a um lugar chamado Interzone, onde, com sua máquina de escrever (que agora se transformou - pasmem - em um inseto), ele narra por relatórios a seus superiores (os insetos, claro) a vida dos que habitam o lugar, geralmente outros escritores obcecados por suas máquinas de escrever e por drogas pesadas. Ah, e todos - ou quase - homossexuais.
Se parece estranho, pode ficar muito mais. Cada escritor é um agente disfarçado, infiltrado no local com uma missão semelhante à de Bill, o nosso protagonista: descobrir o gerenciador local no tráfico de lacraias pretas brasileiras (!!!!), matéria-prima de uma droga sintetizada na cidade, de efeito superior ao das demais.
Abuso de drogas, alucinofilia, homossexualidade, humor nevrálgico e um roteiro inconseqüente levado às últimas conseqüências. Esta indigesta alquimia fez do filme um retumbante fracasso. Verdade seja dita: o filme não recebeu a atenção que merecia nem a paciência que sua degustação plena exige. Mesmo assim, também é verdade que o diretor incorreu em alguns erros que poderiam ter sido evitados e dado ao filme, de modo geral, um tom diferente. Em certas passagens, algumas coisas ficam muito claras, mas a forma não-linear como isso é passado no início do filme é muito mais efetiva, dando ao espectador a idéia de estar mesmo sob o efeito de alguma droga, efeito que vai se perdendo à medida que o filme ganha em inteligibilidade. Certas entrelinhas deveriam ter sido deixadas à percepção do espectador ao invés de serem denunciadas (digo isso, claro, como uma confessa amante das entrelinhas).
Por fim (enfim...), juro para mim que ia parar de implicar com isso, mas é muito mais forte que eu. O que - pelo amor de Deus - leva alguém a traduzir "The Naked Lunch" como "Mistérios e Paixões"?!
...
Indicado para quem pensava que "Quero Ser John Malkovich" era o máximo em estranheza e bizarrice. Morra de inveja, Spike Jonze!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Always cello!

Não sei de onde veio e nem exatamente como surgiu, mas nunca neguei meu amor por esse instrumento. Atribuo possivelmente a um cd do Yo-Yo Ma que eu ganhei do meu pai em algum aniversário (talvez nove ou dez anos). Mas o fato é que não há, no mundo, um instrumento que me dê maior prazer em tocar ou ouvir. Mesmo que, por alguns motivos, eu tenha me desfeito do meu, fique aqui constado que ainda serei ouvida por milhares de pares de ouvidos.
Algum dia.
É, hoje estou musical...
Algumas referências:
Pelos tributos (String Quartet tocando "Hands Clean", da Alanis Morissette)
Por um sonho (Julian Lloyd Weber tocando "Air", de Bach)
Pela originalidade (Apocalyptica e Linda Sundbald, "Faraway Vol. 2")

Degustação musical

Uma mistura instigante. Performático, dramático, sensual. Inteligente, por outro lado. E original. Isso é Dresden Dolls.

Ah, ouçam e deliciem-se, é o que eu posso dizer.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Vida, arte e formas de ver a realidade

Segundo contam, Colombina é retratada como uma serva alegre, bonita, sedutora, inteligente e volúvel, par do Arlequim. Arlequim também é um servo e talvez seja o precursor dos palhaços bufões, esperto, com uma aura sobrenatural, sedutor. Pierrô, outro servo, é ingênuo, sentimental, o pai dos palhaços tristes e secretamente apaixonado pela Columbina.

A origem destes personagens é a Commedia dell’arte, que surgiu no século 16 na Itália e representava arquétipos sociais através de seus personagens e das situações em que se envolviam. As tramas envolviam casais apaixonados, traições e intrigas. Várias outras personagens completam o elenco dessas histórias, improvisadas para adaptar as características de cada uma à trama.
De fato, a arte imita a vida.
And if you're ever around
In the city or the suburbs of this town
Make sure to come around
I'll be wallowing in sorrow
Wearing a frown
Like Pierrot, the Clown
[...]
When I dream
I dream of your lips...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Sentidos

Eu tive uma impressão estranha hoje enquanto me olhava no espelho. Eu olhava para aquele monte de coisas - um par de olhos, nariz, boca, mãos. Tudo em conjunto. Se eles se separassem, ainda seriam EU? E se fossem diferentes: olhos de outra cor, um nariz mais comprido, uma boca diferente, mãos maiores ou menores... aquele conjunto de coisas que eu veria no espelho ainda seria eu? Será que minha personalidade é moldada apenas por esse conjunto? Porque, às vezes, sinto-me oca. Será que tudo que existe em mim não passa de moléculas que se juntaram ao acaso e formaram o que eu sou? Se for dessa forma, eu jamais poderei ser a mesma. Será que eu mudo conforme meu corpo? Ou será ele apenas um templo? Só sei que, olhando para aquele espelho, cheguei a uma conclusão: jamais serei capaz de ver meu rosto, apenas um reflexo da imagem dele. E, nesse reflexo, apenas a imagem que quero ver como sendo meu rosto.
Tive outra sensação estranha ao sair do banho. Percebi que jamais terei a real sensação tátil minha sobre meu corpo. Apenas tocar ou apenas receber o toque. Sempre sentirei ambas, numa experiência diluída, sem gosto. Jamais poderei conversar comigo mesma, jamais serei capaz de julgar-me do ponto de vista de um terceiro. Jamais poderei tocar meu rosto enquanto estiver dormindo e então sentir compaixão de mim mesma por estar distante do mundo.
Sou uma estranha para mim. Mas sou a única que habita meu corpo, e a única que realmente tenta me entender. Sou a única que quero habitar e tentar entender.
Uma simbiose individual.
Um ser só consigo.

"
Quando eu te encarei
Frente a frente
Não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi
De mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio
O que não é espelho
E a mente apavora o que ainda
Não é mesmo velho
Nada do que não era antes
Quando não somos mutantes...

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho
Feliz de cidade
Aprende depressa
A chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso
Do avesso do avesso..."

Count-er-pa-rts



Chega de retrospectos por hoje.

Se o que Proust disse é verdade, que felicidade é a ausência de febre, então nunca serei feliz. Porque sou possuída por uma febre de conhecimento, experiência e criação. Eu acho que tenho uma ciência imediata que viver que é muito mais terrível e doloroso. Não há sequer um lapso temporal, nenhuma distância entre mim e o presente. Percepção instantânea. Mas também é verdade que, quando eu escrevo depois, eu vejo muito além, eu entendo melhor, eu desenvolvo e enriqueço. Eu vivo muito mais no presente. O que eu me lembro depois já não me parece mais tão real. E eu tenho tanta necessidade de realidade. Deve ser essa necessidade de arquivamento imediato que me faz escrever quase em consonância com a vida, antes que seja alterado, modificado pela distância de tempo.

Retrospectiva. Ato Um - 12/03/2000

Achei uma pequena quantidade de textos antigos hoje. Esse foi um deles.
Pensei em uma retrospectiva.
O resto do texto não importa, haha. Mas olha a cabeça da menina de onze anos:
"[...] Oh, e não é que toda essa confusão está se esvaindo?
Olho-me no espelho e vejo a silhueta de mais uma descartável humana, desinteressantemente comum.
E, nas brumas que se dissipam de minha mente, eu percebo que tenho asco da minha natureza. Essa natureza humana.
E, covarde como todos os outros, tratarei de conseguir me enfiar novamente naquela névoa de confusão, ficar vazia de novo.
Apreciando o tal mundo distorcido pelo entorpecimento causado pela minha ignorância."

Cultura inútil: Gerador de Críticas Literárias



O meu ficou assim:

"Um monte de frases desconexas de Dan Brown
Não foi má-vontade - peguei o livro com humildade. Juro que tentei conter minha petulância. Mas logo nas primeiras páginas constatei que os hormônios desiquilibrados de Dan Brown jogavam a trama num clichê neo-modernista sem precedentes. Código Da Vinci é tão atraente quanto a cicatriz na testa de meu pai. A obra se vale da hipocrisia do leitor, que só consegue chegar ileso ao final da história se acreditar que a Paris Hilton não é vagabunda. Mas vamos nos prender numa análise detalhada: os personagens, por exemplo, parecem ter saído de um Sidney Shelson distorcido chegado a uma bicha enrustida com tendência a teoria da conspiração. A história é, do começo ao fim, um monte de frases desconexas - e o desfecho, até para os corações mais bondosos, não passa de lixo. Mesmo quando remete a Nietszche, o livro o faz de forma medíocre. Dan Brown faz parecer que uma Bruna Surfistinha escreve. E, ao mesmo tempo, faz Agatha Christie rolar no túmulo.
Não há formas de ser condescendente: a tristeza que a personagem principal exala deixa um perfume presunçoso em todas as páginas dar um muro de obtuosidade que macula de forma grotesca qualquer forma de literatura.
Conselho: se você encontrar Código Da Vinci nas prateleiras, não hesite, fuja.

Ode aos solitários

Porque eles inspiram os escritores e os compositores.
E porque eles são os escritores e os compositores.




terça-feira, 15 de abril de 2008

Overpower Thee


Com todo o perdão desse vocabulário, hmn, populaire (falando em "populaire", achei uma coisa engraçadíssima hoje, nessas andanças pela Internet, aqui), mas essa mulher é uma delícia. Um tesão. Etc. Etc. Lembro que quando o Smashing Pumpkins finalmente acabou eu fiquei estarrecida, mas isso permitiu que Auf Der Maur saísse das sombras do tirano megalomaníaco Billy Corgan e lançasse seu primeiro (e único, até o presente momento) álbum.

Que voz, oh well... só poderia mesmo ser uma genuína canadense.

Também é uma moça muitíssimo simpática essa tal de Auf der Maur. Única "celebrity" cujo blog eu já cheguei a ler.
Bem, quem não conhece, sugiro sinceramente que comece por essa música:
I like your eyes
I like your shape
And I could easily overpower you
I won't say a thing
I won't tell a soul
But I could easily overpower you
Yes, I could easily overpower you

Ode à minha eterna trovadora


Dormir já foi uma aventura.
Contada pelas líricas de grandes compositores, cujo instrumento era aquela voz.
Ah, a voz suave e levemente trêmula.
Era o momento em que aquela voz se tornava mais agradável.
Acompanhada, sempre das cinco cordas que os dedos conduziam com maestria.
A penumbra dava o toque final e fantástico.
Ah, como era bom dormir assim!
Sinto falta, às vezes, de ser uma criança que fingia temer o escuro, e ouvir aquela voz dizendo "tudo bem, vou cuidar de você".
E das cordas com os poderes mágicos de me fazerem adormecer.
Alguém me escreveu que crescer dói.
Nunca li algo tão verdadeiro.
Contudo, por um momento, quero estar sob aquelas cobertas.
Sob a proteção da minha eterna trovadora.
Uma de suas canções era mais ou menos assim:

Bem te vi, bem te vi
Andar por um jardim em flor
Chamando os bichos de amor
Tua boca pingava mel
Bem te quis, bem te quis
E ainda quero muito mais
Maior que a imensidão da paz
Bem maior que o sol
Onde estás?
Voei por este céu azul
Andei estradas do além
Onde estará meu bem?
Onde estás?
Nas nuvens ou na insensatez
Me beije só mais uma vez
Depois volte prá lá.

Quando vi em um filme que "mãe é Deus aos olhos de uma criança" eu pensei: "bem, razões para acreditar nisso eu tinha". E eram muitas.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Won't you come out to play?

Desde pequena, meus pais sempre tiveram o cuidado de me "culturizar" e, enquanto outras crianças de cinco ou seis anos estavam assistindo o "Xou da Xuxa", eu ouvia Beatles, Janis, Jimi Hendrix, Mutantes, Djavan, Milton Nascimento, Nina Simone, Bach, Beethoven, dentre outras coisas. Devo agradecer a eles a pessoa que sou culturalmente hoje, mas admito que eles até poderiam ter me deixado escolher. Teria sido mais divertido ;)

Assisti hoje cedo ao filme "Across the Universe" e minha antiga e quase esquecida paixão pelos besouros reacendeu. Faço esse post, então, com as duas melhores covers dos inesquecíveis sonhadores de Liverpool.



Letras aqui



Letras aqui

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Não estamos nos assustando desnecessariamente?


Björk é mesmo divina. Quando eu penso que ela não pode mais ser capaz de adivinhar meus pensamentos, me aparece essa aqui.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Atos Um, Dois e Três

Achei você no meu jardim
Entristecido
Coração partido
Bichinho arredio

Peguei você pra mim
Como a um bandido
Cheio de vícios
E fiz assim, fiz assim

Reguei com tanta paciência
Podei as dores, as mágoas, doenças
Que nem as folhas secas vão embora
Eu trabalhei

Fiz tudo, todo meu destino
Eu dividi, ensinei de pouquinho
Gostar de si, ter esperança e persistência
Sempre

A minha herança pra você
É uma flor com um sino, uma canção
Um sonho em uma árvore ou uma pedra
Eu deixarei

A minha herança pra você
É o amor capaz de fazê-lo tranqüilo
Pleno, reconhecendo o mundo
O que há em si

E hoje nos lembramos
Sem nenhuma tristeza
Dos foras que a vida nos deu
Ela com certeza estava juntando
Você e eu

Achei você no meu jardim...

sábado, 5 de abril de 2008

Guerreiras Mágicas de Rayearth


Guerreiras Mágicas de Rayearth é um mangá criado pelo grupo CLAMP e publicado pela revista semanal Nakayoshi em 1994. Possui uma versão em anime.

Durante uma excursão escolar, três garotas, Lucy Shidou, Marine Ryuuzaki, e Anne Hô-Ôji, de três escolas distintas, são convocadas da Torre de Tóquio pela Princesa Esmeralda para salvarem Zefir.
  • Lucy Shidou é a líder das guerreiras. Mora em um dojo, tem três irmãos e um cachorro (Hikari). É carismática e consegue entender o que os animais falam. Adora estar nessa aventura com suas outras amigas guerreiras. É carinhosa e impulsiva, sempre que há perigo, ela é a primeira a proteger suas amigas e amigos, sem pensar no que possa acontecer com ela. Seu Mashin é o Rayearth que estava adormecido no Templo das Chamas. Lucy tem o poder de controlar o fogo.
  • Marine Ryuuzaki é filha de um empresário muito famoso e estuda em uma escola para meninas nobres. É muito engraçada e muito brava também, se estressa facilmente, principalmente quando está com duvida sobre alguma coisa, ou está brava com Mokona. Acha que essa história de se tornar guerreiras é meio maluca, mas no final das contas acaba gostando. Seu Mashin é Celes que estava adormecido no Templo do Mar e seu poder é da água.
  • Anne Hô-Ôji é a mais racional e inteligente das guerreiras. Estuda numa escola para alunas superdotadas. É super amorosa e está sempre bem humorada. Apesar de estar assustada com a história de se tornar uma guerreira mágica, ela gosta. Está sempre dando bons conselhos para as outras guerreiras e ela tem um ótimo coração. Seu Mashin é Windon que estava adormecido no Templo dos Céus e seu poder é do vento.
Ah, ainda consigo sentir os ventos de um passado distante de quando esse desenho passava no SBT (ou seria na Globo? não consigo mais me lembrar...), e alegrava as manhãs das crianças sonolentas, preguiçosas ou sumariamente impedidas de brincar na rua.

Mas me remete, também, a um certo trio de Primeiro Ano do Ensino Médio no Colégio Dom Bosco. E como dá pra traçar paralelos entre as três menininhas inocentes desse desenho (que era uma paixão compartilhada entre mim e a Liana - a Rafaela ainda não sabia ser nerd.) e o trio que se formou forçadamente e acabou fraco, distante e fragmentado.

Quando eu paro para me lembrar de todas as coisas, todas as conversas, todos os papéis gastos em conversinhas bobas passadas de mão em mão na sala de aula, as brigas dos professores, as discussões internas, os ciúmes, as intrigas, os venenos, as lágrimas, eu me lembro com tristeza de ter esquecido disso tudo - um dos momentos de maior aprendizado e crescimento emocional da minha vida.

O mais triste é lembrar que nós três - outrora três colunas que sustentavam uma história - não temos sequer uma foto juntas. Não mais.

É triste a certeza de que, também, nossos caminhos não voltarão a se cruzar. E, caso se cruzem, não passarão de um frio "olá, adeus" de palavras que perdem o sentido assim que saem pela boca.

Mas preciso deixar registrado o quanto vocês foram importante. E o quanto nós, como um conjunto, fomos importantes. E especiais. De uma certa maneira, inesquecíveis. Porque, em alguma caixinha no depósito das memórias, algo sempre vai tocar nossos corações com aquela sensação quente e saudosa, toda vez que essas memórias forem estimuladas.

Como hoje.

Vínculos (bons) como esses nunca se quebram de fato.

Fico feliz =)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Hope Quote.

"De cá para lá, iam desenhando os passos de dança ao som do violino e do piano; Tereza tinha a cabeça pousada sobre seu ombro. Como no avião que levava os dois através da bruma. Sentia a mesma estranha felicidade, a mesma estranha tristeza. A tristeza queria dizer: estamos na última parada. A felicidade queria dizer: estamos juntos. A tristeza era a forma, e a felicidade era o conteúdo. A felicidade preenchia o espaço da tristeza."
- Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser

quarta-feira, 19 de março de 2008

Sing, my angel of music!


"O Fantasma da Ópera" é, sem sombra de dúvidas, o melhor musical que eu já assisti. Supera "Cinderela em Paris" ou "Moulin Rouge!" com grande facilidade. A história é conhecida sem ser lugar-comum (talvez o final, para alguns, deixe um pouco a desejar - até concordaria). Não há quem não se identifique com a história - e há muitas pessoas, talvez, que já tenham passado pelo "dilema Christine", a escolha entre o amor confortável e seguro que lhes remete à infância e o amor peculiar pelo gênio daquele que se esconde nas sombras, estimulando e instigando os seus dons, levando-lhes ao seu mundo paralelo. Essa, para mim, é a grande idéia do musical... e Christine estava certa? Fez a escolha correta? Não há uma escolha correta, de fato. "Toda escolha gera uma renúncia", e ela precisava renunciar a algo. Ela não poderia continuar na dicotomia de uma vida dupla e arriscou no que de fato pensou que seria sua felicidade. O filme acaba aí, nesta escolha, e parece que tudo então se tornou um campo florido. Foi aí que o filme falhou. Falhou em mostrar ao que Christine renunciou, falhou em humanidade em prol dos "happy endings". Mas não há happy endings. Há escolhas. E renúncias.

Ah... eu conheci o musical de uma maneira não exatamente culta. Foi mesmo ouvindo "The Phantom of the Opera", a música-tema, na belíssima voz da belíssima, porém insuportável, Tarja Turunen:

In sleep he sang to me, in dreams he came

that voice which calls to me and speaks my name

And do I dream again?

For now I find the Phantom of the Opera is there, inside my mind...

Sing once again with me our strange duet

My power over you grows stronger yet

And though you turn from me, to glance behind

The Phantom of the Opera is there, inside your mind...

Those who have seen your face draw back in fear

I am the mask you wear...

It's me they hear...

Your spirit and my voice/My spirit and your voice in one combined

The Phantom of the Opera is there... inside your mind/inside my mind...

In all your fantasies, you always knew that man and mystery...

...were both in you

And in this labyrinth where night is blind

The Phantom of the Opera is there... inside your mind/inside my mind...

Sing, my Angel of Music!

quarta-feira, 12 de março de 2008

Sobre terremotos e os seus efeitos

Qualquer um que passou da terceira série sabe dizer o que é um terremoto, de modo que me abstenho de fazê-lo. Quem não sabe, bem, pesquise.

Mas terremotos, para mim, vão muito além do que um geólogo pode explicar, e são muito mais interessantes e complexos do que ele pode discorrer a respeito. Terremotos são, sobretudo, uma ironia, e não menos. São uma ferramenta manipulada pelas mãos invisíveis da natureza contra a impotência das edificações humanas. São, de fato, algo muito curioso. São totalmente imprevisíveis e inevitáveis, e tudo o que podemos fazer a respeito é procurar formas artificiais de amenizá-los.


Note-se que eu falo, aqui, dos terremotos de grande porte, as verdadeiras catástrofes. Os que fazem nosso âmago rugir e nossas construções caírem por terra. Os tremores. Os REAIS tremores, avassaladores e cruéis, que causam muito mais do que leves choques, mas sim incêndios, curto-circuitos e desmoronamentos. Caos. E especialmente a sensação de uma sedutora paralisia que nos toma conta logo que eles passam.


Terremotos são ironias sedutoras. Mas sua ironia não diz respeito ao estrago que causam ou às quimeras construídas sobre alicerces de areia que eles destroem, e sim às coisas indissolúveis que eles não levam ao chão. Então ficamos entre eles e essas coisas. As coisas eternas e os tremores fugazes. Eu os desejo.


(esse certamente merecia estar aqui)

segunda-feira, 10 de março de 2008

Salve Milan Kundera!


"Para Sabina, viver significa ver. A visão encontra-se limitada por duas fronteiras: Uma luz de tal modo intensa que nos cega e uma obscuridade total. Talvez seja daí que lhe vem a repugnância por todos os extremismos. Os extremos marcam a fronteira para lá da qual não há vida, e, tanto em arte como em política, a paixão do extremismo é um desejo de morte disfarçado."



Preciso lê-lo novamente. É uma obra para a vida. É uma obra da vida. Recomendo. Mas não me recordo. Oh, Deus, a memória é uma coisa incerta.


Assim como a vida.



Assim como o peso, a leveza e as medidas.



Assim como as pessoas.



Assim como aqueles armazéns.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Run, Lola, Run!



Eu preciso fugir da crueldade dolorosa da realidade para a magia poética da fantasia. Cansei de viver na realidade. Mas há uma força que não me deixa viver em sonho, e temo que essa força estranha esteja dentro de mim. Uma força letalmente real. Letal, pois a realidade mata, destrói sonhos. Destrói a imaginação. A crueza amarga da realidade. É um veneno para a alma, um veneno de ação lenta. Destrói a criatividade, os sentimentos. E, para sobrevivermos, nos escondemos em nós mesmos.
Alienamo-nos.
E o que sobrevive é um corpo vazio, vivendo meramente por instinto.
A morte dos sentidos.
Um coma da alma.