quarta-feira, 30 de abril de 2008

Vida, arte e formas de ver a realidade

Segundo contam, Colombina é retratada como uma serva alegre, bonita, sedutora, inteligente e volúvel, par do Arlequim. Arlequim também é um servo e talvez seja o precursor dos palhaços bufões, esperto, com uma aura sobrenatural, sedutor. Pierrô, outro servo, é ingênuo, sentimental, o pai dos palhaços tristes e secretamente apaixonado pela Columbina.

A origem destes personagens é a Commedia dell’arte, que surgiu no século 16 na Itália e representava arquétipos sociais através de seus personagens e das situações em que se envolviam. As tramas envolviam casais apaixonados, traições e intrigas. Várias outras personagens completam o elenco dessas histórias, improvisadas para adaptar as características de cada uma à trama.
De fato, a arte imita a vida.
And if you're ever around
In the city or the suburbs of this town
Make sure to come around
I'll be wallowing in sorrow
Wearing a frown
Like Pierrot, the Clown
[...]
When I dream
I dream of your lips...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Sentidos

Eu tive uma impressão estranha hoje enquanto me olhava no espelho. Eu olhava para aquele monte de coisas - um par de olhos, nariz, boca, mãos. Tudo em conjunto. Se eles se separassem, ainda seriam EU? E se fossem diferentes: olhos de outra cor, um nariz mais comprido, uma boca diferente, mãos maiores ou menores... aquele conjunto de coisas que eu veria no espelho ainda seria eu? Será que minha personalidade é moldada apenas por esse conjunto? Porque, às vezes, sinto-me oca. Será que tudo que existe em mim não passa de moléculas que se juntaram ao acaso e formaram o que eu sou? Se for dessa forma, eu jamais poderei ser a mesma. Será que eu mudo conforme meu corpo? Ou será ele apenas um templo? Só sei que, olhando para aquele espelho, cheguei a uma conclusão: jamais serei capaz de ver meu rosto, apenas um reflexo da imagem dele. E, nesse reflexo, apenas a imagem que quero ver como sendo meu rosto.
Tive outra sensação estranha ao sair do banho. Percebi que jamais terei a real sensação tátil minha sobre meu corpo. Apenas tocar ou apenas receber o toque. Sempre sentirei ambas, numa experiência diluída, sem gosto. Jamais poderei conversar comigo mesma, jamais serei capaz de julgar-me do ponto de vista de um terceiro. Jamais poderei tocar meu rosto enquanto estiver dormindo e então sentir compaixão de mim mesma por estar distante do mundo.
Sou uma estranha para mim. Mas sou a única que habita meu corpo, e a única que realmente tenta me entender. Sou a única que quero habitar e tentar entender.
Uma simbiose individual.
Um ser só consigo.

"
Quando eu te encarei
Frente a frente
Não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi
De mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio
O que não é espelho
E a mente apavora o que ainda
Não é mesmo velho
Nada do que não era antes
Quando não somos mutantes...

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho
Feliz de cidade
Aprende depressa
A chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso
Do avesso do avesso..."

Count-er-pa-rts



Chega de retrospectos por hoje.

Se o que Proust disse é verdade, que felicidade é a ausência de febre, então nunca serei feliz. Porque sou possuída por uma febre de conhecimento, experiência e criação. Eu acho que tenho uma ciência imediata que viver que é muito mais terrível e doloroso. Não há sequer um lapso temporal, nenhuma distância entre mim e o presente. Percepção instantânea. Mas também é verdade que, quando eu escrevo depois, eu vejo muito além, eu entendo melhor, eu desenvolvo e enriqueço. Eu vivo muito mais no presente. O que eu me lembro depois já não me parece mais tão real. E eu tenho tanta necessidade de realidade. Deve ser essa necessidade de arquivamento imediato que me faz escrever quase em consonância com a vida, antes que seja alterado, modificado pela distância de tempo.

Retrospectiva. Ato Um - 12/03/2000

Achei uma pequena quantidade de textos antigos hoje. Esse foi um deles.
Pensei em uma retrospectiva.
O resto do texto não importa, haha. Mas olha a cabeça da menina de onze anos:
"[...] Oh, e não é que toda essa confusão está se esvaindo?
Olho-me no espelho e vejo a silhueta de mais uma descartável humana, desinteressantemente comum.
E, nas brumas que se dissipam de minha mente, eu percebo que tenho asco da minha natureza. Essa natureza humana.
E, covarde como todos os outros, tratarei de conseguir me enfiar novamente naquela névoa de confusão, ficar vazia de novo.
Apreciando o tal mundo distorcido pelo entorpecimento causado pela minha ignorância."

Cultura inútil: Gerador de Críticas Literárias



O meu ficou assim:

"Um monte de frases desconexas de Dan Brown
Não foi má-vontade - peguei o livro com humildade. Juro que tentei conter minha petulância. Mas logo nas primeiras páginas constatei que os hormônios desiquilibrados de Dan Brown jogavam a trama num clichê neo-modernista sem precedentes. Código Da Vinci é tão atraente quanto a cicatriz na testa de meu pai. A obra se vale da hipocrisia do leitor, que só consegue chegar ileso ao final da história se acreditar que a Paris Hilton não é vagabunda. Mas vamos nos prender numa análise detalhada: os personagens, por exemplo, parecem ter saído de um Sidney Shelson distorcido chegado a uma bicha enrustida com tendência a teoria da conspiração. A história é, do começo ao fim, um monte de frases desconexas - e o desfecho, até para os corações mais bondosos, não passa de lixo. Mesmo quando remete a Nietszche, o livro o faz de forma medíocre. Dan Brown faz parecer que uma Bruna Surfistinha escreve. E, ao mesmo tempo, faz Agatha Christie rolar no túmulo.
Não há formas de ser condescendente: a tristeza que a personagem principal exala deixa um perfume presunçoso em todas as páginas dar um muro de obtuosidade que macula de forma grotesca qualquer forma de literatura.
Conselho: se você encontrar Código Da Vinci nas prateleiras, não hesite, fuja.

Ode aos solitários

Porque eles inspiram os escritores e os compositores.
E porque eles são os escritores e os compositores.




terça-feira, 15 de abril de 2008

Overpower Thee


Com todo o perdão desse vocabulário, hmn, populaire (falando em "populaire", achei uma coisa engraçadíssima hoje, nessas andanças pela Internet, aqui), mas essa mulher é uma delícia. Um tesão. Etc. Etc. Lembro que quando o Smashing Pumpkins finalmente acabou eu fiquei estarrecida, mas isso permitiu que Auf Der Maur saísse das sombras do tirano megalomaníaco Billy Corgan e lançasse seu primeiro (e único, até o presente momento) álbum.

Que voz, oh well... só poderia mesmo ser uma genuína canadense.

Também é uma moça muitíssimo simpática essa tal de Auf der Maur. Única "celebrity" cujo blog eu já cheguei a ler.
Bem, quem não conhece, sugiro sinceramente que comece por essa música:
I like your eyes
I like your shape
And I could easily overpower you
I won't say a thing
I won't tell a soul
But I could easily overpower you
Yes, I could easily overpower you

Ode à minha eterna trovadora


Dormir já foi uma aventura.
Contada pelas líricas de grandes compositores, cujo instrumento era aquela voz.
Ah, a voz suave e levemente trêmula.
Era o momento em que aquela voz se tornava mais agradável.
Acompanhada, sempre das cinco cordas que os dedos conduziam com maestria.
A penumbra dava o toque final e fantástico.
Ah, como era bom dormir assim!
Sinto falta, às vezes, de ser uma criança que fingia temer o escuro, e ouvir aquela voz dizendo "tudo bem, vou cuidar de você".
E das cordas com os poderes mágicos de me fazerem adormecer.
Alguém me escreveu que crescer dói.
Nunca li algo tão verdadeiro.
Contudo, por um momento, quero estar sob aquelas cobertas.
Sob a proteção da minha eterna trovadora.
Uma de suas canções era mais ou menos assim:

Bem te vi, bem te vi
Andar por um jardim em flor
Chamando os bichos de amor
Tua boca pingava mel
Bem te quis, bem te quis
E ainda quero muito mais
Maior que a imensidão da paz
Bem maior que o sol
Onde estás?
Voei por este céu azul
Andei estradas do além
Onde estará meu bem?
Onde estás?
Nas nuvens ou na insensatez
Me beije só mais uma vez
Depois volte prá lá.

Quando vi em um filme que "mãe é Deus aos olhos de uma criança" eu pensei: "bem, razões para acreditar nisso eu tinha". E eram muitas.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Won't you come out to play?

Desde pequena, meus pais sempre tiveram o cuidado de me "culturizar" e, enquanto outras crianças de cinco ou seis anos estavam assistindo o "Xou da Xuxa", eu ouvia Beatles, Janis, Jimi Hendrix, Mutantes, Djavan, Milton Nascimento, Nina Simone, Bach, Beethoven, dentre outras coisas. Devo agradecer a eles a pessoa que sou culturalmente hoje, mas admito que eles até poderiam ter me deixado escolher. Teria sido mais divertido ;)

Assisti hoje cedo ao filme "Across the Universe" e minha antiga e quase esquecida paixão pelos besouros reacendeu. Faço esse post, então, com as duas melhores covers dos inesquecíveis sonhadores de Liverpool.



Letras aqui



Letras aqui

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Não estamos nos assustando desnecessariamente?


Björk é mesmo divina. Quando eu penso que ela não pode mais ser capaz de adivinhar meus pensamentos, me aparece essa aqui.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Atos Um, Dois e Três

Achei você no meu jardim
Entristecido
Coração partido
Bichinho arredio

Peguei você pra mim
Como a um bandido
Cheio de vícios
E fiz assim, fiz assim

Reguei com tanta paciência
Podei as dores, as mágoas, doenças
Que nem as folhas secas vão embora
Eu trabalhei

Fiz tudo, todo meu destino
Eu dividi, ensinei de pouquinho
Gostar de si, ter esperança e persistência
Sempre

A minha herança pra você
É uma flor com um sino, uma canção
Um sonho em uma árvore ou uma pedra
Eu deixarei

A minha herança pra você
É o amor capaz de fazê-lo tranqüilo
Pleno, reconhecendo o mundo
O que há em si

E hoje nos lembramos
Sem nenhuma tristeza
Dos foras que a vida nos deu
Ela com certeza estava juntando
Você e eu

Achei você no meu jardim...

sábado, 5 de abril de 2008

Guerreiras Mágicas de Rayearth


Guerreiras Mágicas de Rayearth é um mangá criado pelo grupo CLAMP e publicado pela revista semanal Nakayoshi em 1994. Possui uma versão em anime.

Durante uma excursão escolar, três garotas, Lucy Shidou, Marine Ryuuzaki, e Anne Hô-Ôji, de três escolas distintas, são convocadas da Torre de Tóquio pela Princesa Esmeralda para salvarem Zefir.
  • Lucy Shidou é a líder das guerreiras. Mora em um dojo, tem três irmãos e um cachorro (Hikari). É carismática e consegue entender o que os animais falam. Adora estar nessa aventura com suas outras amigas guerreiras. É carinhosa e impulsiva, sempre que há perigo, ela é a primeira a proteger suas amigas e amigos, sem pensar no que possa acontecer com ela. Seu Mashin é o Rayearth que estava adormecido no Templo das Chamas. Lucy tem o poder de controlar o fogo.
  • Marine Ryuuzaki é filha de um empresário muito famoso e estuda em uma escola para meninas nobres. É muito engraçada e muito brava também, se estressa facilmente, principalmente quando está com duvida sobre alguma coisa, ou está brava com Mokona. Acha que essa história de se tornar guerreiras é meio maluca, mas no final das contas acaba gostando. Seu Mashin é Celes que estava adormecido no Templo do Mar e seu poder é da água.
  • Anne Hô-Ôji é a mais racional e inteligente das guerreiras. Estuda numa escola para alunas superdotadas. É super amorosa e está sempre bem humorada. Apesar de estar assustada com a história de se tornar uma guerreira mágica, ela gosta. Está sempre dando bons conselhos para as outras guerreiras e ela tem um ótimo coração. Seu Mashin é Windon que estava adormecido no Templo dos Céus e seu poder é do vento.
Ah, ainda consigo sentir os ventos de um passado distante de quando esse desenho passava no SBT (ou seria na Globo? não consigo mais me lembrar...), e alegrava as manhãs das crianças sonolentas, preguiçosas ou sumariamente impedidas de brincar na rua.

Mas me remete, também, a um certo trio de Primeiro Ano do Ensino Médio no Colégio Dom Bosco. E como dá pra traçar paralelos entre as três menininhas inocentes desse desenho (que era uma paixão compartilhada entre mim e a Liana - a Rafaela ainda não sabia ser nerd.) e o trio que se formou forçadamente e acabou fraco, distante e fragmentado.

Quando eu paro para me lembrar de todas as coisas, todas as conversas, todos os papéis gastos em conversinhas bobas passadas de mão em mão na sala de aula, as brigas dos professores, as discussões internas, os ciúmes, as intrigas, os venenos, as lágrimas, eu me lembro com tristeza de ter esquecido disso tudo - um dos momentos de maior aprendizado e crescimento emocional da minha vida.

O mais triste é lembrar que nós três - outrora três colunas que sustentavam uma história - não temos sequer uma foto juntas. Não mais.

É triste a certeza de que, também, nossos caminhos não voltarão a se cruzar. E, caso se cruzem, não passarão de um frio "olá, adeus" de palavras que perdem o sentido assim que saem pela boca.

Mas preciso deixar registrado o quanto vocês foram importante. E o quanto nós, como um conjunto, fomos importantes. E especiais. De uma certa maneira, inesquecíveis. Porque, em alguma caixinha no depósito das memórias, algo sempre vai tocar nossos corações com aquela sensação quente e saudosa, toda vez que essas memórias forem estimuladas.

Como hoje.

Vínculos (bons) como esses nunca se quebram de fato.

Fico feliz =)