segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sobre política e fraldas



Certa vez disse Lorde John Acton: “o poder tende a corromper; o poder absoluto corrompe de maneira absoluta”.

O que ele parece ter se esquecido de mencionar – ou talvez não tenha tido a perspicácia em notar – é que, certo, o poder tende a corromper. Todos sabem. Mas o que dizer do “não-poder”?

O não-poder tem a mesma capacidade de corromper que tem seu oposto. Vejam bem. Metrópole genérica. Hora apertada de almoço que parece correr como segundos. Você. Dia dez. Banco. Uma, duas, três contas a pagar. Fila. Então você vê aquela mocinha no auge dos seus vinte, com uma gravidez que nem aquela beata da missa de domingo é capaz de enxergar. Ela acabou de passar a perna em 30 pessoas honestas com tão pouco ou menos tempo livres que ela.

Você fica irado.

Não mais que aquele taxista barrigudo e suado à sua frente que faz questão de esbravejar pelos vinte e cinco minutos seguintes. Um quarto do seu horário de almoço (ou talvez metade) foi reduzido a um investimento numa crise de gastrite nervosa.

Enquanto você sai nervoso para engolir o almoço, aquele taxista que perdeu quatro ou cinco minutos com a esperteza da mocinha decide que avançar uns 3 ou 4 sinais vermelhos não é assim tão errado, ninguém respeita mesmo. Ele escapa de uma por pouco. Não que a van que vinha pelo cruzamento tenha tido a mesma sorte – ou a esposa do motorista, horas mais tarde.

Irritados ficaram centenas ou mesmo milhares de motoristas, passageiros, pedestres. Uma mulher que decidiu que perder a hora no salão era suficiente para afanar o cartão de crédito do marido.

O assessor de gabinete que já estava atrasado não viu grande problema em usar o trânsito como desculpa. Afinal, dizem por aí que o chefe está envolvido “naquele esquema”.

O não-poder corrompe porque a sua negatividade implica também – para a maioria das pessoas – a não-responsabilidade. É simples e conveniente colocar o poder político numa grande caixa e usá-la como fuga final para a corrupção pessoal, gerada por uma necessidade de suprimir o sentimento de estar sendo eternamente passado para trás.

Para a psicologia, a transferência de culpa ou responsabilidade no indivíduo está na luta entre o ego – ligado à racionalidade e responsabilidade – e o id, o eu primitivo, regido por desejos e impulsos de prazer. O id busca de todas as formas necessárias o apaziguamento das tensões.

E o que explica a transferência da responsabilidade social? Afinal, o político é corrupto porque é político?

O humano não se corrompe porque o poder o força. O que leva à corrupção é o sentimento de inferioridade e a necessidade de compensação surgida desse estado. Está na hora de a sociedade tirar as fraldas, jogar fora a mamadeira e se libertar do id mandão.

2 comentários:

Eloïse de Almeida disse...

Se o poder e o não-poder corrompe igualmente não seria interessante pensarmos que a corrupção não está relacionada ao poder? Um e outro são pretexto, justificativas para exercer o ato. Então ao que ela está relacionada? Onde e por que surge? O ser humano não presta, nascemos com instinto animal, a cultura e educação familiar nos molda. O caráter vem de berço.

O q faz um país ser mais ou menos corrupto, é o sistema existente de controladoria, método eficaz de punição para inibir comportamento impróprio aliado a um pensamento de senso comum quanto ao que é moral ou não.

Ao furar uma fila de 20 pessoas, em um sistema como acima citado, as pessoas não aceitariam esse tipo de comportamento. Ao usarmos um taxi que fura sinal, não aceitaríamos pagar por um serviço prestado sem ética e idealmente o taxista nao ousaria arriscara avançar um sinal vermelho pois uma multa seria muito provável.

Esse tipo de comportamento fortalece os valores do ser humanos em questão, influência os demais ao redor e nutre um fenômeno social de prezar por um ambiente justo.

Anônimo disse...

Bora atualizar essa bagaçaê!!!

P.S.: ótimo texto, chata.
P.P.S.: Sou eu, a Larissa ^^